08 août 2007

Tropas estrangeiras atacadas em Timor antes da tomada de posse do Governo de Xanana

Público 08.08.2007, Jorge Heitor

Alguns grupos de jovens, descontentes com o facto de o antigo Presidente Xanana Gusmão ir hoje de manhã tomar posse como primeiro-ministro de Timor-Leste, atacaram ontem à pedrada soldados australianos e pessoal das Nações Unidas destacado no país, onde a situação continuava muito tensa.
Enquanto o chefe do Governo cessante, Estanislau da Silva, dizia ao jornal australiano The Herald que a Fretilin, partido mais votado nas legislativas de 30 de Junho, mantém a disposição de "utilizar todos os meios ao seu alcance" para protestar contra a escolha de Xanana e da Aliança com Maioria Parlamentar (AMP), a juventude em fúria acusava o Presidente, José Ramos-Horta, de ser "um fantoche" de Camberra e de Washington.
No entanto, em entrevista à Lusa, Ramos-Horta disse que só não foi possível um governo de grande inclusão, como a Fretilin pretendia, por intransigência da AMP. A formação liderada pelo antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri teria sido mais pragmática: "Tem-se portado correctamente comigo."
Ao mesmo tempo que nas ruas de Baucau, Díli e outras localidades centenas de cidadãos descontentes protagonizam cenas de violência, gritando "abaixo John Howard", primeiro-ministro australiano, nos corredores do poder as coisas passam-se de forma muito mais suave. "Não tenho recebido da liderança da Fretilin senão provas de respeito pelo chefe de Estado", insiste Ramos-Horta, segundo o qual o Tribunal de Recurso é que poderá dizer se a indigitação de Xanana foi ou não legal.
"Transporto uma pesada cruz de pau", lamentou-se ainda o Presidente, citado pela Lusa, ao referir-se ao fogo cruzado a que é sujeito por parte de políticos tanto da Fretilin como da AMP. Em Washington o Departamento de Estado apelava a todas as partes para aceitarem o Governo que hoje toma posse e no qual Xanana reserva para si a responsabilidade directa pela Defesa, Segurança e Recursos Naturais.
Uma das designações susceptíveis de mais desagradar à direcção da Fretilin é a do seu dissidente José Luís Guterres, líder da ala contestatária Mudança, para um lugar de vice-primeiro-ministro, se bem que o próprio preferisse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que já chegou a dirigir.
Veto presidencial
Algumas das escolhas iniciais de Xanana para a sua equipa depararam com o veto presidencial, tendo isso acontecido tanto no pelouro da diplomacia como no das Finanças, conforme declararam ao PÚBLICO alguns dos seus aliados.
O Parlamento terá agora de viabilizar o programa de governação que vier a ser apresentado por esta coligação de quatro partidos, reforçada por alguns independentes, e depois aprovar o orçamento, tendo entretanto Ramos-Horta tido o cuidado de sublinhar que "maioria e minoria fazem parte da vida democrática".
"[O bem comum do povo timorense] exige que sejamos tolerantes", sublinhou o Presidente da República, quando finalmente tornou pública a sua posição, depois de cinco longos dias de espera sobre quem é que na verdade iria ser o primeiro-ministro. E logo a seguir falou do dever de "melhorar as condições de vida, a administração e o governo, tendo por horizonte a esperança no futuro".

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