17 août 2007

Timor-Leste: A farsa política apodera-se de Timor Lorosae

Informação Alternativa - Quarta-Feira, 15 de Agosto de 2007

Texto de Txente Rekondo publicado em Rebelion a 13 de Agosto de 2007. Traduzido por Alexandre Leite

A sucessão de manobras na cena política timorense, que se iniciou há mais de um ano, parece que está a chegar ao fim. Estes movimentos que encadeados formaram a pauta a seguir nesta espécie de guião golpista, foram coroados de êxito com a nomeação de Xanana Gusmão como primeiro-ministro, responsabilidade do actual presidente do país, Ramos-Horta, resultando que as figuras de ambos os personagens, tão louvados pelos gabinetes ocidentais, se submeteram a uma troca de ‘cromos’, ou de cargos.

Todas as tentativas para isolar a Fretilin no cenário político vieram por água abaixo, como se confirmou depois da vitória dessa formação revolucionária nas recentes eleições parlamentares. Por isso a nova manobra de Ramos-Horta, negando ao partido mais votado a oportunidade de formar governo, e entregando este a uma invenção de última hora de Xanana Gusmão, na forma de aliança pós-eleitoral (Aliança de Maioria Parlamentar – AMP) sobre a qual a população timorense não teve oportunidade de se pronunciar, procura garantir esse caminho iniciado no ano passado.

É mais do que evidente que apesar da campanha contra a Fretilin orquestrada por Horta e Xanana, com a colaboração de outras formações políticas historicamente enfrentadas pelo partido maioritário timorense e com o impulso mediático oferecido pelos meios de comunicação estrangeiros, e agentes como os EUA ou a Austrália, e tudo isto bem benzido pela hierarquia da Igreja Católica local, o partido revolucionário foi o mais votado nas recentes eleições de Timor Lorosae.

Para além de que o verdadeiro derrotado foi Xanana Gusmão, que apesar de contar com todos estes apoios não foi capaz de superar a Fretilin nas urnas, e ainda contava com o apoio de membros deste mesmo partido que se tinham desligado da estratégia deste. E Ramos-Horta também não fica bem visto, a quem alguns começam a definir como "o mentiroso", pois apesar de anunciar a formação de um governo de "Unidade Nacional" multipartidário antes das eleições (talvez temendo um triunfo arrasador da Fretilin), depois delas não duvidou em entregar o governo a Xanana, deixando de fora a força mais votada.

O governo da AMP não vai ser fácil. Por um lado está a formação da aliança, com partidos no seu seio dirigidos por "figuras políticas" cujo passado está directamente ligado à ocupação indonésia, e por outro lado estão as diferenças, as lutas internas e as tensões já existentes e que irão aumentar com o passar dos dias. Este grupo de partidos não duvidou em hipotecar o futuro e a estabilidade do país com o afastamento do poder da Fretilin e repartindo-o entre eles. Neste contexto é de destacar o papel que pode adquirir Xanana Gusmão, que decidiu ocupar os cargos mais importantes do executivo (Defesa e Segurança, para além de Recursos Naturais e Primeiro-Ministro), deixando bem claro qual é o interesse que está por trás de toda esta operação política que alguns não duvidaram em qualificar como um "golpe de estado constitucional".

Também ainda ecoam os aplausos que desde Washington e Sydney agraciaram estes acontecimentos, com a maior parte da comunidade internacional a apoiar as manobras, em busca dos seus próprios benefícios, daí que não tenham duvidado em potenciar a divisão do país e colocar em perigo a sua estabilidade. A pressão da Austrália foi mais do que manifesta, procurando declarar Timor Lorosae como um "estado falido" sobre o qual se poderia actuar impunemente. Por outro lado convém denunciar os dois pesos e duas medidas que à volta de processos eleitorais mantém a mesma comunidade, que faz pressão para que o vencedor dos comícios aceite ceder passagem à oposição, enquanto que noutros casos (Palestina é o mais recente) promove manobras e golpes para que os derrotados fiquem com o poder.

Perante esta situação, a Fretilin voltou a mostrar o seu compromisso com o povo timorense, denunciando a divisão artificial à qual se pretende conduzir o país, e mostrando a sua disponibilidade para realizar tudo o que estiver ao seu alcance para garantir e contribuir para “a estabilidade interna e a segurança regional”. Por isso procurou a formação de um governo de Unidade Nacional, com ampla participação no mesmo, e chegou mesmo a propor que o primeiro-ministro fosse uma figura independente.

O que esta formação política não pode aceitar é que, depois de vencer as eleições, lhe seja negado o direito a formar governo ou a tomar parte no mesmo. Apesar de tudo, a Fretilin fez um apelo à manutenção da serenidade e da calma. “Apelamos ao povo que permaneça em calma, de forma a garantirmos a estabilidade e podermos desenvolver o país que todos amamos e pelo qual tantos e tantos deram a sua vida e se sacrificaram”.

A manobra de Xanana e Ramos-Horta entregou o país aos interesses petrolíferos estrangeiros e a personagens políticos sedentos de poder que procuram destruir todos os avanços e conquistas que a Fretilin conseguiu nos anos do seu mandato. O resultado é que os grupos económicos e alguns estados estrangeiros continuarão a utilizar marionetas políticas locais para ficarem com as riquezas de Timor Lorosae.

E enquanto estes políticos rancorosos e colaboracionistas continuam a repartir o bolo, os desafios económicos e sociais que deveriam afrontar, ficam esquecidos e relegados. Assim, a segurança continuará a piorar, com a capital, Dili, à cabeça, onde os grupos mafiosos estão a aumentar e se gera um maior índice de violência a cada dia que passa. E o desemprego e a pobreza, mais de metade da população está desempregada e cerca de "40% da mesma ganha menos de 50 cêntimos de dólar por dia", continuarão a marcar o futuro do povo timorense.

Se o povo de Timor Lorosae não conseguir evitar, o futuro do país não é nada promissor, e o seu sistema político pode estar próximo de ser uma espécie de petro-democracia nas mãos de políticos corruptos e com o beneplácito dos agentes estrangeiros. Os primeiros frutos desta política estamos a vivê-los nestes meses, a divisão do jovem estado que se manteve unido e firme na sua luta pela independência, e que depois de a conseguir pôde ver como os seus sacrifícios são atirados borda fora por esse bando de oportunistas.

Lido no http://timor-online.blogspot.com/

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