Jornal Savana
10.08.07
(Machado da Graça)
Timor Leste
Em Timor Leste as coisas deram, definitivamente, para o torto.
A série de acontecimentos que se iniciou, o ano passado, com os actos de desestabilização do Governo, incitados a partir da Presidência da República (na altura ocupada por Xanana Gusmão), levou agora à nomeação do mesmo Xanana para Primeiro-Ministro.
No fundo, o que tudo isto significa é aquele pais, recentemente liberto da ocupação indonésia, passou a ser uma espécie de protectorado, controlado, em última análise, pela Austrália.
E isso fica mais do que provado com a arrogante atitude do Primeiro-Ministro da Austrália que, a semana passada, resolveu visitar Timor, durante várias horas, sem se dar ao trabalho de informar o Governo timorense, na altura dirigido pela Fretilin. O que terá ele feito durante essas horas não se sabe, mas o certo é que foi depois disso que o Presidente Ramos Horta convidou Xanana para Primeiro-Ministro.
A razão de tudo isto é, exactamente, a mesma que a da guerra no Iraque: petróleo.
Não podemos esquecer que tudo começou poucos dias depois de serem divulgados os resultados de um concurso lançado pelo Governo timorense para a exploração de zonas petrolíferas sob o seu controlo. Nesse concurso, nenhum dos candidatos australianos foi contemplado, tendo a preferência sido dada a uma empresa italiana, se bem me recordo.
A partir daí começou toda a confusão que descambou agora neste autêntico golpe de estado em que o partido mais votado nas últimas eleições se viu afastado completamente do Governo e dos órgãos mais importantes do parlamento.
Como aparentes vencedores do golpe surgem Xanana e Ramos Horta, ambos homens ligados à Austrália e aos Estados Unidos, associados a uma série de pequenos e grandes oportunistas, em que se destaca a figura sinistra de Mário Carrascalão quefoi membro do partido fascista português ANP e, depois da invasão indonésia, foi governador de Timor e defensor intransigente da integração na Indonésia.
É esta gente que, a partir de agora, vai substituir a Fretilin no Governo de Timor Leste, sob a protecção interessada da Austrália.
É bem de ver que, muito provavelmente, os acordos petrolíferos serão rapidamente alterados, a favor das empresas australianas.
Em tudo isto o mais constrangedor é a actuação de pessoas como Xanana Gusmão e Ramos Horta, cujos nomes estiveram intimamente ligados à libertação de Timor Leste do domínio indonésio, que aparecem agora a hipotecar a soberania nacional à outra grande potência regional.
Nas ruas de Dili, aparecem cartazes chamando traidor a Xanana. Designação pesada para quem foi considerado, até não há muito tempo, um herói. Mas, muito provavelmente, designação correcta, se nos basearmos nos acontecimentos desde 2006.
O facto de Xanana Gusmão ser casado com uma cidadã australiana, que não devia ter nenhuma repercussão na política do país, parece ter tido a maior importância nos acontecimentos.
Desde os primeiros momentos da crise do ano passado foi a mulher de Xanana que apareceu, na imprensa do seu país, a atacar o Governo legítimo da Fretilin e a deitar gasolina para o fogo, dizendo que falava em nome do marido.
Triste sina a do povo maubere que, mal liberto de um opressor, está a ser entregue agora a outro opressor, por pessoas em quem confiou.
Para que as riquezas da sua terra sejam usadas a favor de outros interesses que não a felicidade dos timorenses.
Pelo menos que não da maioria dos timorenses, porque alguns, sem a menor dúvida, receberão as migalhas que sobrarem do banquete dos ricos.
Raio de mundo, este...
Lido no http://timor-online.blogspot.com/
12 août 2007
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