Diz quem vivia em Timor nos idos de 1975 que há semelhanças entre os tempos de cólera que ora vivemos e os de então. E o resultado foi o que se viu.
Sendo este tempo, o de agora, tão notoriamente delirante, louco, impus-me a necessária discrição por entender que há momentos em que é imprescindível manter a calma e não deitar mais achas para a fogueira em que querem transformar Timor-Leste e onde os loucos que andam à solta acobertados sabe-se lá bem por que interesses! – havendo, contudo, quem assevere que esses fanáticos o fazem por interesses partidários – apedrejam, queimam, perseguem, destroem bens particulares e do Estado, matam se puderem.
O tempo, porém, encarregou-se de me demonstrar o lirismo da minha atitude. Estava a começar a sentir-me coberta por uma manta de cobardia quando me questionei se deverá haver silêncio, se a discrição não se confundirá com um encolher de ombros ou um fazer de conta que nada se passa que não seja “normal em países saídos de conflitos longos”, como é o caso de Timor-Leste, quando gente sem escrúpulos destrói o país, a esperança, a alma de um povo, a nação.
E em nome do que quer que seja, de tudo ou de coisa nenhuma, justifica-se destruir um país, a terra, a gente? O Poder justifica tudo? Tenho a certeza que não. Tal como tenho a certeza de que, como todos quantos anseiam por paz e tranquilidade, não devo manter-me calada. Decididamente, não!
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O edifício da Alfândega está totalmente destruído pelo fogo posto duas vezes para se ter a certeza de que tudo ficava realmente reduzido a cinzas. E em cinzas se transformaram documentos...
Ouvi na RTTL um responsável partidário desculpabilizar os incendiários justificando que a obra era do partido que governara o país ... A obra feita foi certamente a da reconstrução porque o edifício incendiado data do tempo português. Ali funcionou, depois do tempo em que foi “ Alfândega”, a Imprensa Nacional onde comecei a trabalhar como revisora de provas em 1969. Mas, ainda que a autoria da obra fosse do governo, isso justificaria a sua destruição? Passará então a ser normal construir/reconstruir, incendiar, destruir em cada cinco anos de alternância política para que aqueles que nos sigam não tirem proveito da “nossa” obra?
Não queria, mas senti-me transportada a 1999 quando as imagens transmitidas pelas várias estações de televisão de Portugal nos davam conta de Díli incendiada pelos indonésios que se julgavam no direito de o fazer, uma vez que os edifícios (tudo!, diziam eles) haviam sido construídos por eles. Estranha e triste coincidência de pontos de vista!
Ângela Carrascalão Sábado, Agosto 11, 2007 no Público
http://timor2006.blogspot.com/
12 août 2007
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