20 août 2007

Timor-Leste: Direitos, de quem?

Ainda de negro vestida, de negro véu de renda cobrindo-lhe a cabeça, G. regressa a casa depois de mais uma ida à Igreja onde em silenciosa prece procura alento para a dor profunda pelo desaparecimento do seu companheiro. Três meses é, efectivamente, muito pouco tempo e a dor corta como navalha afiada.
As lágrimas soltam-se-lhe facilmente dos olhos negros de luto profundo e entrecortam-lhe a voz enquanto desabafa que “...foi demasiado cedo, ainda não tinha chegado o tempo dele. “
E continua: “Baixou ao hospital depois de um primeiro ataque; ali, disseram-me que não tinham hipótese de o tratar. Que o hospital não tinha equipamento apropriado. Que era melhor levá-lo para o estrangeiro. Portanto era bom que a família arranjasse forma de o levar de Timor. Eu e os meus filhos tentámos tudo. Queríamos que ele fosse para Darwin. Mas eram precisos vinte e cinco mil dólares...(suspira!) para a Indonésia também não era fácil porque o meu marido andou a fazer trabalho clandestino no tempo da ocupação...
No Hospital Nacional de Timor-Leste não havia tratamento para ele e o meu marido morreu vítima de novo ataque cardíaco três dias depois de ter sido internado. Mas foi cedo de mais. Ainda não tinha chegado o tempo dele...”

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Manhã cedo, depois de deixar a filhinha em casa da avó, L. fazia o trajecto habitual para o escritório quando uma pedra bem grande lhe apanhou “a cabeça, ao lado da nuca, aqui do lado esquerdo”.
L. conta que “ fui logo para o hospital. Vomitei muito. Por isso o médico ficou muito preocupado, fez-me uma radiografia e também me aconselhou que ficasse em casa a descansar; mas desde que levei a pedrada passei a ter muitas dores de cabeça, tonturas e falta de equilíbrio. Eu já voltei outra vez ao hospital. Mas a radiografia não acusa nada. Por isso o doutor disse que tenho de fazer um exame mais completo. Mas o hospital de Díli não tem o equipamento e tenho de ir a Bali.”
L. teria ido logo se tivesse dinheiro para a viagem, estada e para o exame. Assim, vai trabalhar todos os dias embora continue com tonturas, falta de equilíbrio e muitas dores de cabeça. E, claro, continua sem dinheiro. Mas também continua à espera. De quê? Certamente que haja um milagre!

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Fala da universidade e da igualdade o artigo 16º da Constituição da RDTL que diz que “Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres”;

Sobre a saúde, estipula o artigo 57º, 1, da CRDTL que “Todos têm direito à saúde e à assistência médica e sanitária e o dever de as defender e promover”;

O artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos defende que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

Ângela Carrascalão Domingo, Agosto 19, 2007

http://timor2006.blogspot.com

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