Do país Timor-Leste, somos timorenses; devíamos procurar e consolidar o que nos une. Mas não o fazemos. Preferimos, pelo contrário, andar à cata de qualquer coisa, qualquer coisinha, muito minúscula, muito insignificante, que, em determinado momento vê o seu valor inflacionado quando feito argumento importante a ser utilizado conforme as nossas intenções e interesses.
Somos uma “Nação” e de “Nação” se enchem os discursos, mesmo quando só se quer falar de país, território. De tanto nacionalismo palavroso quase se poderia pensar que está bem interiorizado o conceito, o espírito de Nação...
Os acontecimentos actuais, bem como os do passado, têm-se encarregado de demonstrar à saciedade que, infelizmente, o afã posto na busca de um pormenorzito que sirva o nosso querer momentâneo, mais do que manter ou consolidar a Nação, nos levará célere a descontruí-la, talvez mesmo a destruí-la definitivamente...
Somos timorenses e isso deveria bastar-nos. Que nada! É sempre necessário mais uma florzinha que componha o ramalhete da divisão entre os timorenses.
Tempos houve em que a divisão era apenas a da geografia. Porém, se é necessário dividir para reinar...
E por isso os firakus de Lorosae não se entendem com os kaladis de Loromonu. Uns são aguerridos, outros demasiado passivos...
Mas, mesmo em Lorosae, por exemplo, em Viqueque, importa saber-se de que lado de Watu Lari se está; dos naueti ou dos makassai? Podem ser todos do mesmo partido, mas...
Dos primeiros se diz que apoiaram a integração (a exemplo de uma família da área) na sequência do apoio à revolta pró-indonésia no longínquo ano de 1959 que valeu a morte de alguns à mão dos makassai apoiados pelo poder colonial e a outros a deportação de Timor; dos makassai se diz que sempre apoiaram a Resistência, também a exemplo de um dos filhos da terra, guerrilheiro clandestino...
Ciclicamente bastante explorado é o “problema” dos “puros” e dos “mestiços”: um “puro” é sempre puro quer tenha o cabelo bem crespo e as narinas bem dilatadas, quer tenha olhos rasgados, nariz afilado e cabelos lisos; E entre os mestiços, também se faz a distinção entre os descendentes de europeus, asiáticos/chineses, africanos, etc... E um descendente de branco é sempre considerado malai. Com alguma sorte, chegará a malai-oan... e a timorense de corpo inteiro só vencidas muitas barreiras!
Mais um obstáculo transposto? Sim, mas logo surgirá outro, quando temos de escolher entre os de dentro e os de fora. De dentro, sim! Mas, de que lado esteve durante a ocupação? Há os independentistas, os clandestinos, os pró, os duplos, os colaboracionistas, etc, etc, de valor sempre indexado à conjuntura.
Quanto aos de fora, haverá os que são de Portugal, os de África/Maputo ou os da Austrália. E depois é preciso saber a que partido pertence cada um deles. Logo se verá quanto e como vale cada um!
Agora, sobreveio outra moda: a da religião. E relacionada com ela, a morte. Como comentava alguém “unidade? ... então se há diferentes cemitérios para os seguidores das várias religiões! Pois, se nem a morte nos une!!!”
Multipliquem-se estes poucos exemplos por treze distritos e logo se perceberá a dimensão da querela!
Nasci no tempo português e ainda me lembro bem do amor exacerbado dos timorenses à bandeira portuguesa.
Usado como factor de unidade do Império português que se estendia do “Minho a Timor” porque “Portugal não é um país pequeno; é grande o seu Mundo e maior a sua alma!” (a alma, oh, a alma, essa poderosa e omnipresente entidade invisivel!), sob essa bandeira se conseguiu a tranquilidade em Timor sobrevinda a inúmeras lutas internas. O que não quer dizer, obviamente, que tudo estivesse certo nem que tudo tenha sido ultrapassado e bem resolvido, daí se podendo concluir que por nada ter sido bem resolvido é que as divisões vêm agora todas à tona.
Sim, mas...
Agora que não estamos sob nenhum poder colonial, que somos leste-timorenses, independentes pois, que somos um país alicerçado numa Nação antiga de “antes do tempo dos Descobrimentos” deveria ser a altura de conjugarmos esforços e todos juntos trabalharmos para a unidade nacional que se esvai desta terra como água por entre os dedos...
Ângela Carrascalão Terça-feira, Agosto 14, 2007 em http://blogs.publico.pt/timor/
14 août 2007
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