Xanana Gusmão nomeado primeiro-ministro de Timor
Noticias Lusófonas - 6-Aug-2007 - 12:20
O Presidente de Timor-Leste e ex-primeiro-ministro, José Ramos-Horta, convidou hoje Xanana Gusmão a formar o novo governo, cuja posse anunciou que ocorrerá quarta-feira. A Fretilin, que venceu as eleições legislativas, promete sair à rua para contestar o que considera ser uma ilegalidade de Ramos-Horta. A crise continua, para mal dos famintos timorenses que, afinal, começam a ver que a democracia não enche barriga. Passivamente, a Comunidade ee Paises de Língua Portuguesa continua - como sempre - a assobiar para o lado.
"Tomei a decisão de convidar a aliança com maioria parlamentar para formar Governo", anunciou Ramos-Horta referindo-se à coligação de partidos liderada por Xanana Gusmão.
"A AMP [Aliança para a Maioria Parlamentar] propôs que o seu líder Xanana Gusmão fosse primeiro-ministro e eu aceitei", acrescentou o Presidente.
Depois das legislativas do dia 30 de Junho, os partidos não se conseguiram entender para formar uma maioria de Governo, fruto de uma interpretação diferente da Constituição, uma situação que resultou num bloqueio institucional.
A Constituição timorense, feita à imagem e semelhança da portuguesa, prevê que o primeiro-ministro "seja designado pelo partido que recolha mais votos ou pela aliança de partidos com a maioria parlamentar".
O Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor (CNRT), criado pelo ex-Presidente Xanana Gusmão (2002-2006), assinou uma aliança com três partidos minoritários para formar uma maioria de 65 lugares no Parlamento e formar um Governo de coligação.
A Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), que assumiu a luta contra a ocupação indonésia (1975-1999), recusa esse cenário com o argumento de que foi o partido mais votado nas eleições legislativas.
"É totalmente ilegal e contra a nossa Constituição", afirmou o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri. "É por esta razão que o Governo nunca terá o apoio da Fretilin, por ser um Governo ilegal", disse.
A Fretilin "não cooperará com um governo empossado à margem da Constituição" de Timor-Leste e "combaterá por vias legais usurpação do poder", afirmou hoje em Díli o presidente do partido, Francisco Guterres "Lu-Olo".
O dirigente da Fretilin falava numa conferência de imprensa na residência do secretário-geral do partido e ex-primeiro-ministro, Mari Alkatiri, após uma reunião da comissão política nacional da Fretilin.
Xanana Gusmão apelidado de traidor
O convite a Xanana Gusmão para formar o novo provocou já a reacção de pelo menos dois dos campos de deslocados de Díli, com o ex-Presidente a ser tratado de "traidor".
Cartazes e declarações directas contra Xanana Gusmão, o Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT) e a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) surgiram nas últimas 24 horas junto ao campo de deslocados do aeroporto, em Comoro, e ao campo do porto de Díli, no jardim diante do Hotel Timor.
"Xanana é revolucionário, mas com cérebro de John Howard e G.W.Bush", pode ler-se num cartaz hoje afixado em Comoro e que alude ao primeiro-ministro da Austrália e ao Presidente dos Estados Unidos.
Um cartaz em bahasa indonésio, língua usada em vários dos letreiros erguidos hoje em Comoro, exige a Xanana que "pare o seu plano de guerra" ("Stop!!! Konsep Perang", literalmente).
"Deputado Xanana tem que responsabilizar-se pela crise entre 'lorosae' e 'loromonu'", exige outro cartaz por referência ao conflito que estalou em Abril e Maio de 2006 entre timorenses originários dos distritos ocidentais e timorenses dos distritos orientais do país.
Um número estimado de 100 mil deslocados continuam a viver em campos ou em residências provisórias na capital e por todo o país, segundo a última actualização, relativa a Julho, divulgada pelo Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária. Em Díli, há pelo menos 30 mil deslocados.
Os campos do aeroporto e do porto de Díli estão entre os mais politizados da cidade e acompanham muito de perto a situação política e de segurança da capital e do país.
"Os traidores não merecem governar", declarou hoje de manhã uma das responsáveis do campo de deslocados do aeroporto, dizendo falar em nome dos deslocados de toda a cidade.
"Queremos justiça para os autores dos crimes de 2006", afirmou Madalena Tilman numa declaração lida à imprensa.
"Não concordamos que o Presidente da República inclua Xanana Gusmão como primeiro-ministro", afirmou a representante dos deslocados, alegando que declarações do ex-chefe de Estado na televisão pública, em 2006, "resultaram em muitas vítimas".
"Não somos tratados como pessoas, mas como projecto dos governantes", acrescentou Madalena Tilman, afirmando que "os deslocados não têm dignidade a viver debaixo de um toldo no seu próprio país".
O mesmo tom contra Xanana Gusmão marca vários cartazes erguidos em Comoro e no centro da cidade, junto aos campos de deslocados que têm demonstrado com frequência posições pró-Fretilin.
Num deles, a sigla CNRT é desdobrada em "Conselho Nacional da Revolta do Traidor" e "Conselho Nacional da Recolha do Traidor".
Um cartaz refere apenas: "Traidor uma vez, traidor sempre".
Os "objectivos" da AMP, de que o CNRT faz parte, são referidos noutro cartaz como "salvar os autonomistas, pisar o povo maubere, sobretudo o mais miúdo, alcançar uma nação capitalista e dar liberdade aos autores da crise".
Os ataques à pessoa de Xanana Gusmão começaram de forma clara domingo, em frente ao campo de deslocados do porto de Díli, com uma enorme faixa: "O filho do povo maubere precisa de um primeiro-ministro e não de uma pessoa choramingas ("tanis ten", em tétum) como o irmão grande Xis".
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