05 juillet 2007

Carta aos Timorenses

Liège (Bélgica) 05.07.2007

Viva Caros Amigos Timorenses,

Com o resultado das eleições em Timor-Leste, parece-me que agora está tudo mais complicado para governar o país:
a Fretilin ganhou mas ficou muito aquém dos mais de 50% anteriores,
o CNRT de Xanana não obteve os 80% com que sonhava,
quem ganhou sem ganhar foi a ASDT/PSD (do antigo governador indonésio/timorense de Timor/Timur Mário Carrascalão) coligação que ficou bem colocada até porque
o PD de “La Sama” teve menos votos e lugares do que previsto e
há ainda mais três pequenos partidos que entram no Parlamento e ainda bem.

Enfim, nenhum partido ganhou, quem ganhou foi a Democracia num país que ainda está a crescer... e a construir a Democracia.

Vivo há muito tempo na Bélgica, para onde vim nos finais dos anos 60 para escapar à sociedade abafante e colonial de Salazar mas, precisei de muitos anos para compreender a vida política belga que é, sem dúvida, muito complicada, num país que é pequeno mas rico, onde coabitam também várias línguas e apesar das crises, corrupções inevitáveis e mesmo alguns assassinatos, funciona muito bem, graças aos consensos e sem dúvida também por ser já é uma velha democracia.

Timorenses, não desesperem, é preciso dar tempo ao tempo!

Também aprendi muito com o processo revolucionário e democrático português, o que agora sem dúvida me ajuda a compreender melhor o que se passa em Timor, onde estive em 2000 para realizar uma reportagem para a televisão belga sobre a juventude e, desde então, ainda fiquei ainda mais ligado e, para sempre, ao povo timorense que é maravilhoso mas também muito enigmático.

O “Prec” timorense acabou , qual será agora o futuro para Timor-Leste?

Há quem queira regressar à Indonésia e outros que advogam mesmo a anexação à Austrália mas, o povo timorense merece muito mais do que isso, pelo que sofreu ao defender a Liberdade e a Independência e como agora acaba de demonstrar, ao votar em massa e com muita dignidade, resistindo como podia, desta vez não à ocupação indonésia mas, às promessas impossíveis de cumprir que surgiam de todos os lados.

O pluralismo é um bem e não um mal mas é preciso aproveitá-lo.

Francamente causam-me arrepios quando ouço elogíos, mesmo fúnebres ou leio entrevistas com antigos governadores timorenses/indonésios de Timor-Timur que aparecem agora como sendo velhos-sábios... ao que chegámos!

Os portugueses também não foram maravilha nenhuma mas, há pelo menos uma certeza, talvez a única: se Timor-Leste existe hoje, foi porque foi uma colónia portuguesa e onde se falava português, mesmo se pouco, senão hoje Timor, não seria mais do que uma província indonésia.como qualquer outra!

A Resistência utilisou a língua portuguesa e a Igreja o tétum para sobreviverem à ocupação indonésia, será que agora as querem lançar aos crocodilos em nome de uma facilidade momentânea, só para serem populares junto de uma juventude formatada pelos indonésios?

A construção de uma identidade própria é indispensável para a existência de uma Nação.Estou certo que os Timorenses acabarão por encontrar o bom caminho da independência e da prosperidade até porque a formação de um Estado é lenta e dolorosa.

O povo é sábio, quis Ramos-Horta como presidente mas não quer Xanana Gusmão como primeiro-ministro e lá sabe porquê!

Com arrogâncias, populismos e vinganças é que não se vai a lado nenhum.

Às vezes meto-me no que não me diz respeito mas, é o amor ao jornalismo e neste caso também e sobretudo, ao povo Timorense, que me leva a escrever. Os meus comentários vindos de bem longe nem sempre são parciais (quem o é?) mas são sinceros e apaixonados.

Até breve,

Com muita amizade

Fernando Cabrita Moreira/Entre Cais

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