06 novembre 2007

Que Portugal não se esqueça dos apupos a Ramos Horta

Vox Populi - Sábado, 3 de Novembro de 2007
Ramos Horta: ele vem aí!
António Veríssimo

Não deixa de constituir uma surpresa a vinda de Ramos Horta a Portugal, quando ainda não há muito Cravinho, secretário de estado do governo de Sócrates esteve em Timor-Leste.
Melhor, quando ainda não há muito Ramos Horta esteve nos Estados Unidos, na ONU e depois na Europa.

Se tinha assuntos para tratar em Portugal porque não inclui-los na agenda e evitar o incómodo de ter novamente de viajar para tão longas distâncias? Que ocorreu de tão premente em Timor-Leste que obrigue à intervenção do presidente timorense no trato de assuntos relacionados com ambos os países?

Não deixa de ser um mistério, esta visita do PR timorense à Lusa Pátria.

Diz-me um amigo que ele vai tratar de um doutoramento na Universidade de Braga. Mais um.
Informaram-me que também aquele tipo de doutoramentos é "sabão em tábua de calçada" em que os "doutorados adquirem os títulos por simpatia", que é "como os explosivos quando estão próximos uns dos outros: lá vai disto!"

Mesmo assim não se compreende o incómodo da deslocação, podiam fazer tudo isso por correspondência, ou por video-conferência.

Mas, pronto, tudo bem. Ele quer dar-se a esse incómodo... que venha e se prepare para ouvir uns apupos lá na Universidade de Braga, como prometem.

Certamente devido à visita anunciada Horta achou por bem dar uma pequena entrevista, por escrito, a Jorge Heitor, do jornal "Público" - um profissional interessante e de mãos limpas na sua relação com a profissão que bem desempenha.

Diz Horta que o significado desta viagem é a sua primeira visita oficial a um país europeu e que ele prima por ter de ser a Portugal pela importância das relações entre os dois países, para além de valores mais altos se perfilarem relativos aos seus sentimentos "de muita amizade, gratidão sincera, realismo e pragmatismo" em relação a Portugal e aos portugueses.

Claro está que estas são palavras diplomáticas que os mais mais vernáculos classificam de verbais dejecções de conveniência. Tão pouco são para acreditar em termos sentimentais, se quisermos recordar que os políticos da actualidade raramente são portadores de sentimentos de tamanha dignidade. É uma constatação global.

Falam bem, mas não contribuem para a nossa felicidade. Antes pelo contrário.

As perguntas de Jorge Heitor foram as evidentes e que vieram mesmo a calhar para perceber respostas que revelam aos interessados nas políticas dos responsáveis timorenses o que não vão fazer do país: um país independente, um país naquela parte do mundo com personalidade própria e que pela sua pequenez e originalidade, pela sua história comum, será sempre acompanhado com honestidade e muita solidariedade pelos amigos portugueses. Não somos uns amigos quaisquer mas sim irmãos da lusofonia - coisa de que Timor-Leste já se está a afastar quando ainda nem passou da porta de entrada.

A entrevista de Horta merece ser "descascada" de fio a pavio. É nas entrelinhas que estão as respostas a muitas das dúvidas que pairam nos nossos espíritos atormentados por tantas injustiças de que os timorenses têm sido vítimas.

Ficou-se a saber que o inglês e o bahasa irão ser oficialmente reconhecidos como línguas do país e não parece que isso venha fazer com que o português perdure naquela parte do mundo, a não ser por uns quantos "saudosistas" e fieis irmãos.

Pois sim. Porque não? O país é de Horta e de Xanana, são eles que decidem. Foram eles que lutaram no campo e na secretaria são eles que se consideram os "donos do território e do mar". São eles que legitimamente o podem vender!

A democracia tem destas coisas, quando com ela se misturam golpes de estado com a aprovação e apoios da ONU, da Austrália, de Sócrates - que não de Portugal ou dos portugueses!

Nesta entrevista dejecto-verbal - como diriam os vernáculos - o melhor são as perguntas. De tão simples, mas objectivas, fizeram com que nas entrelinhas percebêssemos as respostas.

Ficámos com a certeza de que não tinham razão aqueles que se indignaram sinceramente por ser afirmado com alguma antecedência que Portugal estava a "entregar" Timor-Leste à Austrália.

Este entregar deve ser entendido como demissão das responsabilidades históricas e de cumprimento da vontade manifestada pela maioria dos portugueses antes, depois e presentemente, se os timorenses assim o desejarem. Note-se, timorenses, não os negociantes Horta e Xanana ou da sua área de pensamento e acção.

Ponderemos nas políticas de José Sócrates em Portugal, no seu provincianismo afectado pelas fofas alcatifas e demais mordomias, para perceber que os actuais governantes de Portugal decidiram com influências de Inglaterra e de empórios financeiros internacionais o seu afastamento de algo que poderia fazer a diferença naquela região do globo.

Afinal todos estes políticos agora no poder, nacional-timorenses ou não, aquilo que têm feito na condução da jovem nação mais não tem sido que negociatas.

Lamentavelmente há políticos portugueses envolvidos nas "caldeiradas".

De Sócrates não seria de esperar outra coisa, assim como de Horta. Eles têm afinidades impressionantes...

Se bem pensarmos, são afinidades similarmente corriqueiras nestes políticos desta vergonhosa "nova" Ordem Mundial".

Outros tempos virão e essas vontades serão mudadas.

Que Braga não se esqueça dos apupos. Melhor, que Portugal não se esqueça dos apupos.

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