Timor-Leste: Portugal retirando "por acaso"
Lusa - 18 de Outubro de 2007, 13:05
Pedro Rosa Mendes, da agência Lusa
Díli, 18 Out (Lusa) - Dois contingentes portugueses, da GNR e PSP, partiram hoje de Díli. São regressos de rotina à pátria mas, somados a saídas de lugares de destaque em Timor-Leste, "sabem a uma retirada de Portugal", resumiu um magistrado à agência Lusa.
Polícias (em voo comercial), militares (em voo fretado), assessores políticos e de defesa, juízes, investigadores, procuradores e oficiais portugueses estão a partir de Timor-Leste, deixando lugares por preencher, ou sendo substituídos por elementos de outros países.
Não são em grande número, mas ocupam posições-chave no quadro da missão internacional (UNMIT) e da ajuda ao desenvolvimento.
Os motivos de partida, indagados pela Lusa nas últimas semanas, são diversos: rotação de contingente, rescisão contratual, decisões estritamente pessoais, desistência de candidatos seleccionados.
"O resultado imediato, porém, vai ser uniforme: menos presença de Portugal em Timor-Leste", afirmou um juiz português à Lusa.
"Não se percebe qual a estratégia portuguesa em Timor nem que coerência têm os milhões dos nossos impostos que vêm para cá", constata outro magistrado.
Timor-Leste é o primeiro beneficiário da Cooperação Portuguesa.
O caso emblemático é o de cinco oficiais da PSP e GNR cuja missão chegou agora ao fim na Polícia das Nações Unidas (UNPol).
O comando da UNPol na capital (o mais importante em termos operacionais para a segurança no país), a chefia da Unidade Nacional de Trânsito ou a investigação criminal de processos resultantes da Comissão Especial Independente de Inquérito (CEIE) à crise de 2006, considerados sensíveis pela ONU, eram algumas das posições desse grupo.
A ONU, em Nova Iorque, pediu ao governo português que permitisse a extensão por seis meses da missão dos cinco portugueses.
"Gente boa aparece pouco", resumiu, em declarações à Lusa, o general Eric Tan, responsável máximo do sector de Segurança da UNMIT.
O Ministério da Administração Interna (MAI) português recusou o pedido de extensão, alegando não abrir mão de uma regra que, contudo, conhece, pelo menos, duas excepções.
O MAI recusou, mais tarde, um segundo pedido de Nova Iorque de uma extensão técnica de um mês que permitisse a substituição sem sobressaltos dos cinco oficiais.
"As recusas do MAI são um 'tiro-no-pé' em termos diplomáticos, não servem os interesses da UNMIT nem de Portugal e, pior, foram motivadas por razões puramente corporativas", afirmou à Lusa um oficial superior da PSP em Díli que pediu o anonimato.
O comandante distrital da UNPol na capital, que até há duas semanas era o subintendente António Leitão da Silva, foi já substituído por um oficial da Malásia.
"Além de objectivamente más para a influência portuguesa, as decisões são más para Timor", acrescentou um assessor português da Presidência da República timorense.
"A saída de uma dezena de pessoas em lugares críticos, que por acaso eram portugueses, afecta a máquina de segurança e de justiça", sublinhou a mesma fonte.
Três juízes portugueses, dos sete juízes lusófonos do Programa de Fortalecimento do Sistema de Justiça (PFSJ), e dois procuradores do Ministério Público confirmaram à Lusa a decisão de pôr fim ao trabalho em Timor-Leste, "por já não compensar o esforço e o desgaste".
Trata-se de magistrados que têm sido responsáveis pelo andamento de processos muito delicados e que têm estado "sozinhos" sob as críticas, entre outros, da nova ministra da Justiça, Lúcia Lobato.
A "retirada" portuguesa abrange também oficiais da UNPol nos distritos, na Unidade de Segurança Pessoal e na Unidade de Apoio aos Procuradores, além do fim de duas assessorias no Ministério do Interior, "importantes para o entrosamento com o aparelho de segurança e a máquina judiciária", segundo outra fonte.
Terminou também, no final de Setembro, a presença de agentes portugueses nas Alfândegas, cujo edifício-sede no centro de Díli, incendiado em Agosto, "é a imagem do trabalho que Portugal fez na instituição em seis anos: tudo queimado", resumiu um cooperante na hora da partida.
O embaixador de Portugal em Díli, João Ramos Pinto, considera o regresso de tantos portugueses "fruto do acaso" e sublinhou à Lusa que "as prioridades portuguesas estão mais concentradas na Língua e na Justiça".
João Ramos Pinto contrapôs com a criação de oito assessorias jurídicas desde o início deste ano e o acordo para três guardas prisionais e sete oficiais de justiça, além do apoio ao Centro de Formação Judiciária.
"A cooperação australiana tem contratado juristas e financeiros portugueses", acrescentou o embaixador português.
Entre 1999 e 2006, o total da ajuda portuguesa a Timor-Leste ascende a mais de 381 milhões de euros, cerca de 519 milhões de dólares americanos.
Lusa/fim
NOTA DE RODAPÉ:
Veja mais sobre o abandono de Portugal a Timor-Leste aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
E não é por acaso.
Lido no http://timor-online.blogspot.com/
20 octobre 2007
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